BRASÍLIA, Brasil – A agência de espionagem Abin do Brasil supostamente conduziu vigilância ilegal em pelo menos três juízes do Supremo Tribunal e um ex-presidente da Câmara dos Deputados durante a presidência de Jair Bolsonaro, de acordo com documentos do Supremo Tribunal divulgados nesta quinta-feira.
A divulgação dos documentos ocorreu logo depois que a Polícia Federal do Brasil fez buscas em endereços ligados ao deputado Alexandre Ramagem, ex-chefe da espionagem de Bolsonaro. Ramagem é suspeito de orquestrar a espionagem ilegal contra os inimigos de Bolsonaro durante sua gestão na Abin de 2019-2022.
A investigação da Suprema Corte se soma aos crescentes problemas jurídicos de Bolsonaro. O ex-capitão do exército de extrema direita já foi considerado politicamente inelegível até 2030 pela sua conduta durante as eleições presidenciais de 2022, e enfrenta múltiplas investigações criminais que ainda podem levá-lo à prisão.
Sob o comando de Ramagem, a Abin supostamente bisbilhotou ilegalmente pelo menos três ministros do Supremo Tribunal Federal, o ex-presidente da Câmara dos Deputados e um advogado que trabalhou no assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco em 2018, de acordo com a decisão vista pela Reuters que aprovou as operações de quinta-feira.
Ramagem, um ex-policial federal e leal a Bolsonaro que planeja concorrer à prefeitura do Rio, disse que a ordem judicial era infundada.
“É uma mistura de narrativas antigas e ultrapassadas usadas para acusar criminalmente pessoas sem qualquer prova”, disse ele à rede GloboNews.
A Polícia Federal do Brasil também buscou a suspensão de Ramagen como deputado, mas o pedido foi negado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, que autorizou as batidas policiais, dizendo não ver necessidade “atualmente” de suspendê-lo do Congresso.
A Abin também teria sido usada para preparar relatórios para o filho de Bolsonaro, Flávio Bolsonaro, em sua defesa em um caso de corrupção, e para interferir em investigações relacionadas a outro filho do ex-presidente, Jair Renan Bolsonaro.
Flavio Bolsonaro negou em nota que a Abin tenha agido a seu favor. Jair Renan Bolsonaro não quis comentar. Um porta-voz do ex-presidente não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
Na manhã de quinta-feira, a Polícia Federal realizou 21 operações de busca e apreensão em Brasília, Rio de Janeiro e outras localidades. Uma fonte policial disse que celulares e laptops, inclusive um de propriedade da Abin, foram apreendidos em um dos apartamentos de Ramagem.